Narrativa de viagem à ilha do Pico nos Açores, realizada em 2017, acompanhada por uma selecção de algumas fotografias.

SINOPSE
Esta colecção fotográfica conta a história de uma viagem onde fui posta à prova perante a natureza. Da intensidade desta dura relação surge o meu trabalho, que pretende mostrar como experienciei e interpretei a paisagem da Ilha do Pico. Foi na superação do infindável caminho do lajido, do nevoeiro cerrado do caminho das lagoas ou da tormentosa subida à montanha do pico que surgiram as minhas fotografias, resultantes do esforço de me superar e saber lidar com as adversidades e da experiência adquirida durante esta viagem.
O LAJIDO
A viagem começou no caminho do lajido, perto do aeroporto da ilha do pico. Desde o princípio que esta ilha me deixou deslumbrada. Nunca tinha presenciado nada assim, uma paisagem tão dura e agreste, onde a vegetação era rasa e o basalto negro predominava, dando forma às pequenas casas, que isoladas pareciam nascer da topografia da paisagem.
Neste percurso pedestre fui caminhando sobre uma longa laje de basalto quase sempre junto ao mar. Andar directamente sobre a irregularidade da rocha basáltica relevou-se uma tarefa longa e penosa, fazendo com que a chegada a São Roque durasse mais tempo do que o grupo tinha previsto. Contudo, ainda neste percurso, não pude deixar de reparar na constante presença da enorme montanha do pico, que se sobressaia no meio das nuvens cada vez que me virava para o lado interior da ilha.
AS LAGOAS
De São Roque partimos para a Terra Alta onde nos esperava um jipe. Foi uma grande surpresa quando chegámos a este lugar, porque encontrámos um pequeno paraíso selvagem no fim de uma estrada que acabava de frente para o mar.
Já dentro do caminho da rota das lagoas, o tempo começou a mudar e demos por nós dentro de um denso nevoeiro, o que nos obrigou a seguir sempre em frente pela estrada fora. A meio desta estrada monótona, apertada e perigosa, houve uma altura em que parte do nevoeiro se dissipou deixando espreitar parte de uma lagoa pré-histórica incrível, a Lagoa do Peixinho. Parámos e saímos do jipe para registar aquele momento, mas por pouco tempo, porque minutos depois, o nevoeiro voltou a cobrir toda a paisagem envolvente.
Depois desta aventura já só parámos nas Lajes do Pico, onde mais uma vez a montanha se mostrou, mas desta vez de uma forma diferente. Enquanto o pôr-do-sol se escondia por detrás da ilha, pela primeira vez em toda a viagem, a montanha revelou-se na sua totalidade impondo um enorme respeito. Era não só a sua vista mais deslumbrante como a mais tormentosa. Foi naquele preciso momento que senti um forte aperto no estômago só de pensar que no dia seguinte o grupo iria subir até ao cume daquela gigante montanha, ficando lá a pernoitar.
A CONQUISTA
Tínhamos chegado à Casa da Montanha por volta das cinco horas da tarde. Fiquei com algum receio de não conseguirmos chegar ao topo da montanha antes de anoitecer, no entanto, iniciei o percurso sem voltar a pensar no assunto. Foi uma subida muito difícil e não tive vontade de tirar fotografias durante toda a subida.
Passadas duas horas e meia de grande esforço, finalmente conseguimos chegar à cratera do pico. Não esperava o que apareceu diante dos meus olhos, uma paisagem vulcânica de dimensão exagerada cercada com muros de 30 metros de altura. Minutos depois voltei a sentir calma para apreciar o lugar, mas primeiro tivemos de encontrar um refúgio protegido e abrigado dentro da cratera, para montarmos o acampamento. Adormeci com a imagem do pôr-do-sol sobre um mar de nuvens em contraste com a escuridão da cratera.
Passámos uma noite muito atribulada devido à presença de uma forte tempestade, que se prolongou durante horas a fio a noite inteira. Já de madrugada, acordámos, arrumámos as tendas e começamos logo a descer o caminho que tão arduamente tínhamos escalado no dia anterior. Caminhámos sob um denso nevoeiro numa gelada madrugada de Inverno chegando à Casa da Montanha completamente exaustos e encharcados.
A RECOMPENSA
Rapidamente chegámos à Madalena para apanharmos o barco para a ilha do Faial, onde a prioridade passava por encontrar uma casa confortável para descansar, lavar a tralha e reorganizar a viagem. Chegámos à Horta e parecia que de repente tínhamos chegado ao paraíso, mas o mais interessante, é que de qualquer lugar da Horta dava por mim a olhar constantemente para a montanha do Pico. No entanto, já olhava para a montanha com outros olhos. Ao contrário do que acontecera no início da viagem, desta vez sentia que já conhecia esta montanha, estava familiarizada com ela. Foi sempre com esta visão distante, “mas próxima” que me despedi da ilha do Faial, lembrando-me sempre de toda a experiência que tinha apreendido na ilha do Pico em apenas três dias.
Ficha Técnica (Equipamento e Suporte):
© Carolina Delgado Fotografia
Máquina Fotográfica – Canon EOS 600D
Técnica Utilizada – Digital
Suporte – Papel Fotográfico Satin 270g/m2

outros ensaios / Other Papers

Back to Top